30 de out. de 2007

Sol, calor...

- por Karol Felicio

Pequenas perversões da praia
Escoltado por lentes negras
Que não escondem um sorrisinho por cima do ombro
Um deslize por baixo da mesa

Frio na barriga do banco de trás,
Do sofá da sala, do elevador
A tentação da infidelidade
- convenção social –

Os pensamentos soltos quando os olhos fecham
E o grito escondido que declara
- consumação das delícias do pecado original –
Porque muito antes de vovó
O proibido já era mais gostoso.

Vamos fazer nada juntos?

-por Lívia Francez

Quer fazer nada comigo hoje? Te prometo um filme, um edredom quentinho, muita risada e milhões de beijos. E essa é só a proposta inicial. Deixa a vida atrás dessa porta que o domingo chuvoso está aqui, esperando para ser aproveitado como merece. Esquece tudo. Lembra de nós. Transforme essas horas intermináveis em deliciosos momentos de volúpia descompromissada.

Mergulhe de cabeça no nosso mundo e vamos nos perder um pouco. Vamos virar um, tocar o fundo dessa piscina de sensações. O passaporte para esse universo paralelo? Só a sua vontade. A vontade de se entregar tão grande quanto a minha.

Juntos vamos transformar esse domingo chuvoso num lindo sábado de sol, só por estarmos aqui. Na mesma freqüência. Com a mesma sintonia. Sincronizados. Misturados.

Glorious euphoria. Aproveitando cada segundo, devorando-nos como se não houvesse nada de mais delicioso no universo. E na verdade não há. Não nesse momento. Nesse momento em que estamos só nós, nesse domingo chuvoso, fazendo nada juntos. Nada além de sermos um do outro.

29 de out. de 2007

Reza e espera

- por Karol Felicio

Acendo a vela pro meu anjo
07 dias de conforto
Sigo o caminho mais fácil e às vezes não tenho caminho a seguir
A criança ri e me mostra o quão idiota é meu sofrimento
Fase de não sentir
Tudo não tem cor, não tem gosto, mas não tem dor
O fim do sofrimento antes da manifestação de alegria – ainda longínqua
Fase de nada, nem frio nem calor
Fase de espera
07 dias do anjo que toca meu ombro
Aguarda, me aguarda, da guarda
Posso senti-lo
E espero
Intermináveis
07 dias

22 de out. de 2007

Verde

- por Karol Felicio
Olho de folha, carrega a incoerência do mundo na pupila
Olho de folha de dia, olho de noite mais tarde
Bipolaridade
Quem és além da retina conflitante e inquieta?
Quem vês além de todos e tudo mais?
A mim... só a mim não creio tanto.
Ah, sim...
Olho de folha, sai da casca
Se mostra, rasga a couraça
Olho de folha que intriga, acende sempre quando apago e apaga quando me entrego. Afasta sempre enquanto me aperto.
Me ri, me chora, me ama, me torce, me passa, me aquece.
E esfria.
Sai do corpo pelo olho, me lava e toca a alma.
Mesmo que mal me lembre da cor dos teus olhos. Impossível é apagar o teu olhar.

21 de out. de 2007

Carta aberta a você

-por Lívia Francez
Tenho te esperado há muito tempo. Que maneira estranha de dizer isso. Nem te conheço ainda, mas é a verdade. Espero te encontrar no caminho, match me, preencher tudo aquilo que julgava ser “impreenchível”. Mas sei que não é. Tenho esperado te visualizar dentre tantos potenciais pares perfeitos, entre todos aqueles que por acaso minha mente teimou em criar fantasias de casamento e filhos. Mas sei que não é assim que vou te encontrar. Vou te (re) conhecer num piscar de olhos, num charminho inocente. Talvez até numa cerveja despretensiosa. Num dia de não-maquiagem, num bad hair day, naqueles dias. E mesmo assim não iremos nos importar, there’s just us. Eu também não vou me importar com aquele pequeno detalhe que provoca uma interferência no que eu julgo bom senso. Não vou me importar com o que mais me irritaria em qualquer pessoa. Só porque é você. E não existe ninguém além de você.
Você não vai se importar pela minha demora em demonstrar o quanto eu sinto. Não vai me cobrar mais atenção, não vai ficar impaciente quando eu entrar no meu mundo. Você sabe que ele é parte de mim, e me recolho sempre que necessário. Você sabe de tudo o que minha cabeça pensa e que eventualmente minha boca não verbaliza. Sabe, e se sente bem. Só porque é você. E não existe ninguém além de você.
Você sabe que o coração de pedra pode quebrar. E se importa em conservá-lo como um bibelô para que não provoque uma ruptura trágica. Sabe que o lugar seguro é na minha cama, nossa cama. Sabe que com você a cama (nossa) fica melhor. E sempre melhor. Me reconhece em cada som, em cada gesto, na noite, no escuro, à meia luz, vê minha expressão sem precisar iluminar. O brilho está nos olhos. A centelha...você sabe onde. Só porque é você. E não existe ninguém além de você.
No fundo desse copo, no final de tarde na praia, no levantar da cama, no meu mundo, na nossa realidade. I would be beside you. E só pela certeza de que você também faz isso por mim. Nesse arroubo de sentimentalismo, em todas as palavras ditas, e naquelas que viraram uma ruga. Eu digo sem medo, dou a cara, abro o peito. Só porque é você. E não existe ninguém além de você

9 de out. de 2007

Meine freund Amy

- por Lívia Francez

O estado de fobia social é fomentado pela vontade irrestrita de partir rumo ao auto-conhecimento. Juntar em torno de si somente o que agrada e enriquece. Fazer a máquina da cabeça funcionar. Dar corda na imaginação e tomar fôlego para encarar melhor a vida e o cotidiano. É fácil para quem está aqui dentro, convivendo só com pensamentos, livros e músicas.

Nessa busca pela verdade interior se faz muitos amigos, eles sempre têm algo de relevante a dizer. Amy está sempre por aqui, ajuda a afogar as mágoas e exorcizar as bads. Bukowski abre as portas pro futuro, a idealização do sonho, a vontade de conquistar tudo o que se precisa pra ser feliz, sarcástico, sempre chega com uma piadinha irônica pra dar uma sacudida nas idéias. Hesse às vezes aparece também, falando de assuntos que dizem respeito às profundezas da alma, quer porque quer que eu me conheça mais, que olhe mais pra dentro de mim...porra Hesse, gimme a break, às vezes tudo o que preciso é de uma cerveja gelada e isso é a coisa mais importante da minha vida!

Também tem aqueles que fazem visitas esporádicas: Jamie, Ike, Cibelle, o Joe também vem de vez em quando, dão uma movimentada aqui, promovem umas festinhas bem loucas, daquelas em que se dança só de calcinha, sem se importar com o quão ridículo isso possa parecer, mas ok, eles são amigos e não se importam com a insanidade que provocam.

Ah, mas tem um que nem sempre se faz presente, mas é o mais lembrado, é o Chico. Ele me viu nascer, acompanhou o crescimento, a mutação, marcou a vida e vem marcando a estrada, não fica velho nem passado. Motivação, alegria e gratidão. Esse é o Chico!

Todos eles ficam da porta pra dentro. Da porta pra fora é comigo. E nesse estado de fobia social, mal posso esperar pra chegar em casa e ouvir meine freund Amy cantando pra mim, ler o que Hesse tem pra me ensinar, dançar de calcinha com Joe e chorar as pitangas com o Chico querido.

8 de out. de 2007

De tombos em tombos

- por Karol Felicio

Quando a cicatrização dói mais que o corte
- com sangue quente não se sente dor-
Depois lateja inconstante e ritmada
Costuro minha carne, lambo minhas feridas
Então me deixe sentir onde dói mais fundo
Só! – RISCO DE INFECÇÃO
Daqui a pouco é pele nova
Daqui a pouco pronta
Para cair de novo

4 de out. de 2007

Casulo

- por Karol Felicio
Catando os cacos,
hora de montar o casulo.
Cabe uma estante de coisas boas,
O lixo vai para ali do lado...
“Alguém em construção” – diz a placa.
Um ajuste aqui, uma peça ali, lixo!
Está pouco confortável aqui, mais alguma coisa no lixo
E tem mais espaço...
Aí um de cada vez.
Resolvendo as pendências, saindo.
Joga mais lixo fora.
O que ficou vira enfeite no casulo.
Do lixo sai uma borboleta.
Ex-casulo.
Em busca de jardins mais floridos!

Para aquelas que me movimentam

-por Lívia Francez

Não vivo sem as borboletas, sem aquelas borboletas que insistem em bater as asas no meu estômago. É uma sensação viciante essa...coisa que não abandono nunca. O propósito delas nem sempre é o mesmo, mas elas existem e estão aqui. Nesse momento por alguma coisa, noutro por outra.

As borboletas são necessárias pra cabeça voar, pra criar, pra andar, são a ponta de ilusão na dura realidade, e elas estão aqui, pra me lembrar que sonhar com o pé no chão não é ruim. É ruim sonhar quando se perde a noção da realidade. As borboletas servem pra pegar no sono tranqüilamente, pra andar em nuvens de algodão, pra não esquecer que sou gente e tenho sentimentos. Elas dão força, elas impulsionam, elas anuviam a cabeça. Elas trazem pra realidade, elas me fazem ser melhor, elas...ah, colocam cor em todo esse cinza!

Toda vida fui fascinada por elas, seja na natureza, seja no meu estômago, nos desenhos, nos meus desenhos, na minha pele. Fazem parte de mim, do que eu sou, do que eu busco. A leveza, a metamorfose, a adaptação. Ser uma pessoa que sempre se reinventa, que sempre busca mais, que se deixa levar ao sabor do vento. Que é única, colorida, que renasce sempre pra algo novo e melhor. E que fascina também, por que não? Elas são criaturas que fascinam, que estão em perfeita harmonia com a natureza, carregam seu próprio magnetismo e graciosidade. Elas são presságio de coisa boa, que o inverno acabou, que o sol chegou, que já dá pra botar a cara na rua e sorrir sem medo do frio e da tempestade.

3 de out. de 2007

Morte do tempo

- por Karol Felicio

Não é a morte que mete medo
Mas sentir escorrer nos dedos as rugas e os cabelos brancos, e não carregar no estômago a metade do mundo que sonhei comer;
Porque me mata imaginar que a ânsia de viver caduque e que os sonhos morram de velhos como os seguros;
Temo pensar que o fogo da juventude acabe por queimar os desejos, por precipitação e gula;
Porque quero chegar a Vênus, mas ainda não me encontrei na Terra;
E sigo apressada, abrindo vias, chutando pedras, cortando por atalhos e abraçando os riscos;
E me atormenta pensar em tantos “s” das possibilidades...
Melhor cobrir a boca, cerrar os olhos e esperar que o amanhã amanheça.

1 de out. de 2007

Meu primeiro meme

-por Lívia Francez

Sou uma apaixonada, curiosa, obcecada por descobrir novos sons. Todos os momentos, ocasiões, épocas, são marcados por certo tipo de música ou artista. Porque não disponibilizar então um serviço de utilidade pública?

Aproveitando a nova febre que toma conta dos blogs, resolvi aqui também fazer um meme, sugerindo o top 5 das músicas que melhor funcionam naquelas horas mais quentes. O fato é que essas cinco pérolas têm uma levada mais sensual e mesmo erótica. Não é preciso ser nenhum expert no assunto para saber o quanto uma música pode ser estimulante ou excitante. Questão de sentidos. Vamos às pedradas:

5) Amy, Amy, Amy - Amy Winehouse: Boa pra criar um clima, o trompetinho esperto da introdução dá toda aquela aura de glamour, cinta-ligas e cigarros na piteira dos anos 50. A letra também é um ahazzo! Attract me/’til it hurts to concentrate ou just to show him how it feels/I will pass his desk in heels é praticamente um convite à cama. Mesmo quem não saca nada de inglês percebe que nessa música tem coisa...e muita coisa! Uma big band completa pra dar início aos trabalhos, abrindo com chave de ouro.


4) Lenda – Céu: Colocando brasilidade na mistura....e partindo pro ataque! Essa já começa cheia de suingue, e com uma mensagem que agrada em cheio às mulheres. Bobeou na crença príncipe, volta ao seu posto de lenda. A voz da cantora também ajuda muito. Sensual, marcante, pungente. Ideal pra quem quer criar um clima de mistério, apimentar um pouco o jogo... Se você quer brincar, rir, fazer gracinhas, criar um clima de envolvimento, essa é a hora.



3) Let’s stay together – Al Green: Um clássico nunca falha! Black music nunca falha! Com essa não podia ser diferente. Um convite à ficarem juntos, uma música de amor, mesmo que não haja amor. Uh, lovin’ you forever, apimenta, gritinhos, sussurros pontuando toda a canção. O “reverendo” se revela bem saidinho nessa maravilha da soul music, é de se esperar que aguce, pelo menos a vontade de se descobrirem.


2) I belong to you – Lenny Kravitz: Ele é sexy, a música dele é sexy. E essa não fica de fora. Um ostinato que instiga, um baixo que intriga, uma guitarra nervosa! Os high and lows da música, são como os altos e baixos a dois. Ora intensos, ora suaves, ritmo marcado, tudo bem combinado. Desenvolvimento primoroso, para o momento de envolvimento, loucurinhas, em que nem se tem noção do que está ouvindo.



1) Spinning the wheel – George Michael: Um cara conhecido mundialmente por ser um devasso não poderia fazer música diferente. Essa é completamente envolvente, tem todos os elementos necessários pra provocar uma explosão nos sentidos. Usa de vários elementos eletrônicos para “abrir as portas da percepção”, e sem precisar nenhum outro aditivo. Backing vocals que são um desbunde combinam perfeitamente com os sussuros que o Perv Michael solta no decorrer dessa pedrada. You’ve got a thing about danger, remete à idéia do sexo como algo perigoso, pervertido, proibido, luxurioso. Alimenta as fantasias e essa obra prima do Dirty Michael contribui e muito com isso.

Menção honrosa para This house is on fire de Natalie Merchant; You know I’m no good, da sempre perva Amy Winehouse; Touch me, dos Doors e You can leave your hat on, do (muso) Joe Cocker.

Arrasem nas sugestões, críticas e adendos. Tudo para spice up your sexual life!

No Ponto


- por Karol Felicio

É bom existir o mistério
Sutilmente apimentando os sentimentos
E assim prorrogar a entrega, discretamente,
Aumentando a distância do tempo exato.

No entanto há de se driblar o risco, de não perder a hora,
De não passar do ponto, da temperatura exata,
Crocante por fora, macia por dentro, nem quente, nem fria.
Sem perder o momento, sem quebrar a magia.